Tudo começou na manhã de quinta-feira, dia oito de setembro de 2011 em Blumenau, pós-feriado da Independência do Brasil. A chuva, que já é uma velha conhecida da cidade, se intensificou. Em outras cidades como Gaspar, Ituporanga, Itajaí e Rio do Sul, a situação não era diferente.
Acordei mas não abri os olhos, mas com os ouvidos já atentos ouvi minha mãe, dona Oneide, falar: “Liga pro teu trabalho! Não sei se vai dar para tu ir hoje, olha só a altura do rio já”. Era 9h da manhã. Levantei, esfreguei os olhos, abri a cortina e ali estava ela, a que seria considerada a vilã da semana: a chuva.
Acordei mas não abri os olhos, mas com os ouvidos já atentos ouvi minha mãe, dona Oneide, falar: “Liga pro teu trabalho! Não sei se vai dar para tu ir hoje, olha só a altura do rio já”. Era 9h da manhã. Levantei, esfreguei os olhos, abri a cortina e ali estava ela, a que seria considerada a vilã da semana: a chuva.
Não era grande coisa, não comparado a 2008, onde era torrencial e abundante. Dessa vez a água caia mais calma, sem pressa, mas constante. Na cozinha encontrei minha irmã e minha mãe ouvindo rádio, sintonizado na Nereu Ramos, algo pouco comum na nossa família em dias normais. A notícia era de enchente eminente no Vale do Itajaí. A minha preocupação não era tão grande, afinal a chuva era relativamente fraca para ser considerada como a causadora de um desastre.
Voltei pro quarto, liguei o notebook entrei no Twitter. Espanto. Jornais e autoridades locais noticiavam a próxima grande enchente da cidade, em proporções comparada a de 1984. Muitos depois lamentaram que a cheia do Rio Itajaí-Açu foi em uma data desapropriada, afinal faltava um mês para a Oktoberfest. Perto do meio-dia já se via ruas alagadas pela cidade. 1º de Janeiro é a primeira a enfrentar a cheia do rio, mas dessa vez não seria a única. Enquanto que a chuva não parava, nem aqui nem no Alto Vale, resolvi dar uma volta, afinal não iria trabalhar naquele dia mesmo.
Andando aqui e acolá, vejo o mesmo cenário que eu vi em novembro de 2008: casas com água batendo no fundamento, pastos alagados e rios transbordando. Me veio a mente a minha família às 4 da manhã limpando a casa e baixando os móveis, mas felizmente, a lembrança ficou no passado! Nossa casa, assim como muitas outras que circundam o Ribeirão Itoupava na Itoupava Central, sofrem muito mais quando o assunto é enxurrada.
Voltei para casa. Liguei a TV e coloquei rapidamente na FURB TV, nada de Blumenau; RBS local, nada; RIC, ainda não; TVL, sim, cobertura continua, primeiramente com Minosso no comando, depois Fabrício Wolff. As informações mostravam que Blumenau se encaminhava para estado de emergência.
No período da noite as imagens do Centro, mais parecendo Veneza brasileira, começam a aparecer. Rua São Paulo, Antônio da Veiga, Rua 7 de Setembro, Avenida Beira Rio. As principais ruas da cidade alagadas. Água barrenta, provavelmente contaminada, se espalhava entre ruas, prédio, casas e terrenos baldios. A situação piora com a água que não baixa e a informação das cidades do Alto Vale que estão em uma situação pior ainda.
Na manhã do dia nove, o sol brilhava e as águas continuam a subir. Como não teria a possibilidade de chegar ao trabalho eu, alemão curioso, vou até o apartamento do meu irmão próximo a Vila Germânica (no dia, estava ocorrendo uma exposição de orquídeas na antiga PROEB, onde infelizmente 70% delas acabaram sendo danificadas com a enchente), para constatar se a TV e a internet não tinham montado as imagens da noite anterior. Infelizmente, era tudo real.
Com a falta de luz, água e telefone no Centro, eu, meu irmão, minha irmã e minha cunhada, voltamos para a ala seca de Blumenau, levando seus suprimentos que provavelmente iriam apodrecer na geladeira desligada. Na volta o medo foi maior quando passamos pela Ponte do Salto: o barulho que a água fazia era ensurdecedor, mais forte do que maré brava batendo em rochas na praia. Passado o susto, chegamos em casa sãos e salvos, aguardando o fim de mais um episódio de enchente em Blumenau.
Diretamente eu não fui afetado pelas enchente, mas a minha rotina foi.
Por: Gustavo Woerner
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