quinta-feira, setembro 15, 2011

A cidade que desafia as águas



O fundador alemão ainda pisava essas terras, quando os primeiro moradores de Blumenau começaram a desafiar a força do Itajaí Açu.

Desta vez, ainda na manhã de quinta-feira, dia oito de setembro, os primeiros sinais de mais uma enchente fizeram a cidade parar. As lojas fecharam as portas, empresas dispensaram seus funcionários. Dezenas caminhões foram carregados as pressas na tentativa de salvar os pertences das  famílias de todos os cantos.
A cidade que ao longo de 161 anos  enfrentou mais de 80 enchentes, ainda cura as feridas do desastre de 2008.

No inicio da tarde o rádio começou informar que o nível do rio atingiria 14 metros.  Era o prenuncio do que poderia ser a quarta maior enchente da história.   

O transito na cidade ficou caótico, muita gente, ao mesmo tempo,  procurando caminho entre as ruas alagadas para chegar em casa. Quem tentou pela rua São Paulo, próximo a maior universidade de Blumenau, encontrou as águas que tomaram a via. Na praça que homenageia o estudioso da natureza Fritz Muller,   quase 2 metros de água  reproduziam  a imagem do sábio observando o rio a seus pés.

Na rua Primeiro de Janeiro, atingida pelas águas cada vez que o rio passa dos 7 metros,   foi possível passar de barco junto ao telhado das casas, que foram abandonadas pelo moradores.  Boa parte destes foi levada para  Igreja Concisa, na Itoupava Norte, onde funciona o primeiro abrigo público.  Famílias inteiras em busca de proteção e alento em meio à incerteza.
Em todas as regiões da cidade, casas foram cobertas pela água. Os móveis na maioria dos casos retirados antes da inundação. Graças ao sistema de cotas de enchente que há anos informa com quantos metros de elevação do rio cada rua é afetada pela água.

Enquanto famílias carregavam móveis, empresas tentavam salvar máquinas e produtos,  ainda no dia oito, um comitê de crise  chefiado pelo prefeito discutia as ações no terceiro andar da prefeitura. O  nível do Itajaí não parou de subir. As noticias de que as barragens de contenção foram transpostas pelas águas nos municípios do alto vale, nutriram a indústria da boataria aumentando o temor da população.

Quando começou a reunião das 19hs. o prefeito João Paulo, os deputados Jean Kuhlmann   e Ismael dos Santos,  e uma dúzia de técnicos e secretários municipais ainda aguardavam o diretor da companhia de energia elétrica, que chegou minutos depois. O protocolo de segurança da empresa estabeleceu o desligamento preventivo da eletricidade, nas regiões afetadas pela elevação do rio.

Com apresentação do relatório da Celesc  as autoridades sabiam onde e quando as famílias iriam ficar sem eletricidade. A sensação de impotência frente a força da natureza ficou mais evidente. Milhares de moradores da cidade parcialmente inundada passariam a noite às escuras.
Após a reunião, e com as previsões de que o nível do rio continuaria subindo, bombeiros foram deslocados para procedimentos emergenciais no velho Vapor Blumenau,  barco transformado em monumento. A antiga embarcação poderia se desprender, e navegar descontroladamente rio abaixo.
Em todo Vale do Itajaí, famílias inteiras passaram a noite acordadas. Onde a energia elétrica não foi desligada rádio, TV ou a internet mantinham informados, centímetro a centímetro, grande parte da população. Já para quem teve a energia elétrica desligada restou ficar de olho na rua para ver se a água se aproximava de casa.

Quando amanheceu o dia nove a cidade alagada começa receber as notícias de que o ritmo de subida do rio estava desacelerando.  Uma estranha sensação de alivio mesmo com o rio subindo levou a cidade a planejar a segunda-feira. Pessoas que não tinham sido atingidas pelas águas tomavam as ruas fotografando as áreas alagadas. Empresas começam a convocar os funcionários, para voltar ao trabalho.
Ao meio dia quando o rio começou a baixar de seu pico de 12,60m,  iniciou a operação limpeza. Quase uma tradição. De um povo orgulhoso de viver desafiando a força do Itajaí Açu. Cada palmo de chão devolvido pelo rio era quase que instantaneamente limpo.

A gente que desafia o rio segue a vida. Orgulhosa de não ser derrotada pelo pessimismo. Não é conformada. Sabe que é preciso trabalhar duro todo dia para minimizar os estragos. Preservar a vida. Construir uma cidade para seus filhos. 

Postado por: Emerson Antunes

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