
Enquanto se vende lá fora a imagem de “Europa brasileira”, o que se vê na realidade, nas ruas de Blumenau, é uma cultura miscigenada, muito diferente da colônia alemã do início do século passado – entendendo-se o termo “cultura” pelo conjunto de costumes, obras e valores de um povo.
Talvez o turista que venha à Oktober não saiba que a vida noturna nesta cidade é muito diferente de uma charmosa cidade europeia. Praticamente não há opções, os poucos bares no centro da cidade fecham cedo – sem pudor de “demitir” a clientela – e as casas noturnas que sobram refletem uma monocultura, sim, mas não é a germânica: é a monocultura da moda. Portanto, se há dez anos a única opção na noite era sambar ao som do pagode, atualmente o jeito é lustrar os chifres ao som de sertanejo universitário (afinal, quem inventou esse nome?).
Ao mesmo tempo, a política cultural local é uma verdadeira piada. De mau gosto, com todo respeito aos poucos que desenvolvem um trabalho sério. A começar pelo investimento: o Fundo Municipal de Cultura premiou este ano os projetos artísticos da cidade com a quantia de 300 mil reais. Para se ter uma ideia, no município de Joinville o repasse anual é de 2,7 milhões. Será por causa do tamanho? Talvez não: em Jaraguá do Sul e até na pequena São Bento do Sul o valor corresponde a 800 mil reais, cada município.
É por esses e outros motivos que afirmo que, enquanto os turistas dançarem embalados pelas bandinhas germânicas, a arte e a cultura local continuarão no fundo da privada – como canta a banda local Revolver (música Nada de novo no front, disco Palavras de vidro.)
Por Iran Silveira
iran.silveira@pop.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário