quarta-feira, outubro 06, 2010

Um solitário Edifício Máster

Resenha: Um solitário Edifício Máster

Um vídeo. Nele, corredores em tons de verde, salmão, outrora quase sombrios. Um edifício de 276 apartamentos, 12 andares, com 500 moradores. O Edifício Máster, localizado em Copacabana no Rio de Janeiro, já foi ponto de drogas, prostituição e decadência. Depois da entrada do síndico Sérgio, nos últimos anos, as coisas mudaram, para melhor. Como ele mesmo diz a-ferro-e-a-fogo foi colocando ordem na casa.

No documentário dirigido pelo cineasta Eduardo Coutinho, percebe-se entre uma fala e outra, que uma comunidade pode ser a de um grupo de moradores de um mesmo local. O Edifício Máster, com seus tantos moradores, é uma comunidade solitária entre si. Quase, nem mesmo se conhecem os vizinhos, suas histórias; reflexo de uma era de individualismo, de hábitos solitários.

Numa mesma comunidade há uma variedade de estilos, gostos, atitudes. Desde a narcisista que se consola vendo as próprias fotos, poetas, músicos, arquitetos, críticos da vida, da violência, da sociedade. De criança super protegida à prostituta, Alessandra diz, “a hora em que eu morrer vou ser muito feliz” e completa, “o mundo é muito ruim”. Outra moradora que sofre de claustrofobia, Daniela, também chamou a atenção no documentário. Poeta, ela usa a arte como válvula de escape, assim como a maioria dos entrevistados.

A sensibilidade chegou ao auge, com a entrevista do morador Henrique, que interpretou a canção “My Way” de Frank Sinatra… Era tanta saudade no timbre de sua voz, tanta recordação, tanto desabafo e emoção, que acaba se transformando em alegria por ter sobrevivido a mais uma bela interpretação, da canção favorita.

O Edifício Máster e os moradores, não estão muito longe da nossa realidade. Quem nunca se sentiu sozinho? Quem nunca foi machucado para valer e resolveu isolar-se do mundo, procurando bálsamos em atividades solitárias? Quem nunca, por um instante, deixou de acreditar na vida, de perder a fé nela? Eis que a arte, que tão explicitamente apareceu em forma de música, poesia, plásticas, nos serve como remédio.

O interessante é compartilhar essas dádivas junto aos seus. É não deixar que o mal nos feche para o mundo, pois viver, conviver, é transcender as nossas próprias dores. É perder o medo de sentir o coração arder novamente. É compreender que cada um sabe da dor e do amor que carrega. É fazer da lição um aprendizado e não um castigo, para nos tornarmos melhores, como seres humanos que somos.

Sim, houve horas, que eu tinha certeza / Quando eu mordi mais que eu podia mastigar /
Mas, entretanto, quando havia dúvidas / Eu engoli e cuspi fora /
Eu encarei e continuei grande / E fiz do meu jeito. (My Way - Frank Sinatra)

 

Entrevista do morador Henrique

Na vida temos a oportunidade de mudar, de se desnudar; escrever e reescrever, quantas vezes forem necessárias, a nossa história. Talvez os 110 minutos deste documentário nos sirva como lição.

Por Nane Pereira

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